Tudo sobre: Acidente Vascular Cerebral (AVC)
Introdução
O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é ocasionado por lesões nos vasos sanguíneos responsáveis pela irrigação do cérebro e pode ser classificado em dois tipos: isquêmico e hemorrágico. O AVC isquêmico se dá partir da oclusão por trombos ou embolismos dos vasos sanguíneos cerebrais, privando o recebimento de oxigênio e glicose pelo cérebro. Já o AVC hemorrágico resulta da ruptura da parede do vaso sanguíneo dentro do parênquima cerebral ou do espaço subaracnóide (entre meninges), provocando um sangramento local e circunferencial.
O cérebro precisa de fluxo constante para suprir suas necessidades especiais de oxigênio e glicose, fundamentais para o correto funcionamento do tecido nervoso, ou seja, qualquer enfermidade que altere a circulação prejudicará o fluxo sanguíneo, podendo acarretar graves consequências funcionais. Por isso, é uma doença clinicamente importante, podendo causar impactos significativos nas áreas cognitivas e neurológicas e na qualidade de vida.
Até pouco tempo, era considerada incomum em pequenos animais. No entanto, com o aumento da expectativa de vida dos animais de estimação e os avanços em diagnóstico por imagem na Medicina Veterinária, mais casos têm sido relatados. Parece não ter relação com raça ou sexo, porém é mais prevalente em animais mais velhos.
A isquemia cerebral em cães e gatos pode estar relacionada à aterosclerose (mais raro), embolias sépticas (por infecções e abscessos), metastáticas (neoplasias), gordurosas (tutano proveniente de fraturas ósseas), parasitárias (Dirofilaria immitis) e cardíacas (coágulos). Em felinos, destaca-se ainda a Síndrome da Disfunção Cognitiva como causa de isquemia cerebral.
Na hemorragia intracraniana, há alteração no volume cerebral que pode resultar em rápida disfunção cerebral e dependendo da quantidade pode ser fatal. O hematoma resultante do extravasamento sanguíneo muda a relação volume/ pressão, aumentando a pressão dentro do crânio. Além disso, pode comprimir o tecido nervoso adjacente ampliando a lesão por necrose isquêmica. As causas de hemorragia podem ser traumáticas, resultando de ruptura espontânea dos vasos por malformação vascular, coagulopatia ou ainda decorrentes de um tumor ou acidente vascular cerebral isquêmico.
O desenvolvimento dos sinais clínicos depende da extensão (focal ou difusa) e da localização (telencéfalo, tálamo, mesencéfalo, tronco encefálico e cerebelo) dos danos vasculares.
Transmissão
- Não se aplica
Manifestações clínicas
Sinais inespecíficos (isolados ou em conjunto):
- Arreflexia
- Apatia
- Ataxia
- Convulsão
- Desmaio
- Coma
- Paresia
- Paralisia
- Head Pressing
- Miose
- Nistagmo
- Opistótono
- Hiporreflexia
Diagnóstico
Associação de sinais clínicos, epidemiologia e exames laboratoriais.
Exames que o(a) Médico(a) Veterinário(a) pode solicitar:
- Tomografia Computadorizada
- Ressonância Magnética
- Análise de Líquor
- Angiografia
- Hemograma completo
- Urinálise Simples
- Eletrocardiografia
- Coprocultura
- Hemocultura
- Eletroencefalograma
Observação: A realização e a definição de necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário)(a).
Tratamento
Algumas condutas básicas poderão ser tomadas antes mesmo da realização dos exames laboratoriais com o objetivo de estabilizar o paciente, prevenir possíveis complicações e evitar a progressão do quadro neurológico inicial, que pode comprometer o prognóstico. A partir disso e do diagnóstico do tipo de AVC que o animal apresenta, a estratégia terapêutica será estabelecida.
O paciente deverá ficar internado para monitorização contínua dos sinais vitais nas primeiras 48h ou mais, a critério do(a) Médico(a) Veterinário(a) responsável. Nos casos hemorrágicos, o paciente precisará ficar em repouso para evitar novos sangramentos. A abordagem terapêutica pode incluir administração de glicose, corticoides, diuréticos, anticonvulsivantes, vasodilatadores cerebrais, anti-inflamatórios não esteroidais e vitaminas do complexo B.
O(a) clínico(a) também pode submeter o paciente ao resfriamento completo do corpo ou apenas da cabeça com bolsas de gelo, pois a hipotermia pode funcionar como agente neuroprotetor físico. Esta medida deve ser usada com cautela e de forma moderada e a temperatura corporal do paciente deve ser rigorosamente monitorada para que não haja prejuízos orgânicos.
Prevenção
Não há medida efetiva que proteja o animal de um acidente vascular cerebral, principalmente com o avançar da idade. No entanto, o(a) tutor(a) pode reduzir as chances, cuidando para que o animal não desenvolva outras doenças que favoreçam o aparecimento de lesões nos vasos cerebrais.
A boa alimentação, a rotina de exercícios e o check up regular ao(à) Médico(a) Veterinário(a) melhora significativamente a qualidade de vida do paciente e auxilia no diagnóstico precoce de qualquer enfermidade.
Referências Bibliográficas
CRUZ, A. S. et al. Acidente vascular cerebral em cães: revisão de literatura. UNIMAR CIÊNCIAS 22 (1-2), 2013.
VALENTE, D.P. et al. Acidente vascular cerebral em cão – Relato de caso. PUBVET, Londrina, V. 6, N. 25, Ed. 212, Art. 1412, 2012