Tudo sobre: Acidose tubular renal
Introdução
A acidose tubular renal é uma disfunção dos túbulos renais na qual há prejuízo no transporte e reabsorção de bicarbonato bem como na excreção de íons hidrogênio, mesmo com a taxa de filtração glomerular normal. Isso provoca um desequilíbrio eletrolítico no organismo que promove a acidez no sangue (acidose metabólica) com simultânea deficiência em acidificar a urina. Os túbulos renais - proximais e distais - são parte importante dos néfrons (unidades estruturais dos rins) e são responsáveis pela reabsorção das substâncias filtradas pelos glomérulos e secreção dos elementos plasmáticos no líquido tubular.
É considerada uma doença de difícil diagnóstico na clínica de pequenos animais, pois a causa da acidose tubular pode ser multifatorial. Em humanos, há registros de condições hereditárias, porém pode estar associada a outros distúrbios metabólicos como a diabetes melito e ainda a presença de doenças autoimunes. Pode também apresentar caráter clínico temporário como em casos de obstrução do trato urinário - muito comum em cães e gatos - ou por lesões agudas nos rins devido ao uso indevido ou prolongado de medicações nefrotóxicas.
Esta condição pode comprometer funções importantes do organismo, pois também atua no desbalanceamento de outros íons fundamentais como cálcio, fósforo e potássio. O depósito de cálcio nos rins, por exemplo, pode favorecer a formação de cálculos renais. Além disso, o desequilíbrio de íons cálcio pode alterar diretamente na estrutura e funcionamento ósseo.
Clinicamente, a acidose tubular renal pode ser classificada em quatro tipos, de acordo com a localização da lesão tubular. As mais relevantes são:
- Tipo 1: porção distal, erro na excreção de hidrogênio - o pH urinário permanece elevado (> 5,5) mesmo em acidose sistêmica, nestes casos é comum menor concentração sérica de potássio e maior eliminação de cálcio na urina;
- Tipo 2: porção proximal, falha na reabsorção de bicarbonato - promove um pH urinário alcalino (> 7) quando a concentração plasmática de bicarbonato é normal, porém pode ocorrer pH urinário <5,5 quando a concentração plasmática do bicarbonato já estiver diminuída, nestes casos pode haver maior eliminação de cálcio, fósforo, potássio, proteínas, glicose e outros elemento pela urina.
Em animais de companhia, não parece haver predisposição racial ou sexual, porém animais adultos e idosos são mais predispostos a apresentarem lesões renais. Se não houver intervenção apropriada, a acidose tubular renal pode evoluir para doença renal crônica.
Transmissão
-Não se aplica
Manifestações clínicas
Sinais inespecíficos (isolados ou em conjunto):
- Fraqueza
- Desidratação
- Hiporreflexia
- Arritmia
- Paralisia
- Dor
Diagnóstico
Associação de sinais clínicos, epidemiologia e exames laboratoriais.
Exames que o(a) médico(a) veterinário(a) pode solicitar:
- Urinálise Simples
- Hemograma Completo
- Ureia
- Creatinina
- Cálcio
- Potássio
- Fósforo
- Sódio
- Glicose
- Cloro
- Análise De Sedimento
- Análise De Cálculo Urinário
- ALT- TGP
- AST - TGO
- Fosfatase Alcalina (FA)
- Ultrassonografia abdominal
- Radiografia abdominal
Observação: A realização e a definição de necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário(a).
Tratamento
O tratamento vai depender do tipo de acidose tubular renal, mas consiste principalmente na alcalinização do organismo, na reidratação e no restabelecimento do equilíbrio ácido-base. Quando houver correlação com doença subjacente, esta deve ser corrigida. Nos casos de insuficiência renal aguda, é importante eliminar as causas conhecidas da lesão renal e dar suporte ao organismo para a recuperação dos distúrbios eletrolíticos provocados pela síndrome urêmica.
Pode haver a necessidade de suplementação de vitaminas e minerais para melhor recuperação do paciente.
Prevenção
Não há uma prevenção específica que impeça o desenvolvimento da acidose tubular renal, uma vez que sua origem pode estar vinculada à presença de outra doença. No entanto, é responsabilidade do(a) tutor(a) ter consciência dos cuidados básicos para o bem-estar e saúde de seus animais. A princípio, com o fornecimento de uma alimentação equilibrada, balanceada e de boa qualidade para que não haja excessos ou faltas para o animal. Além disso, é importante incentivar o animal a tomar água frequentemente, colocando bebedouros com água limpa e fresca nos ambientes em que ele mais fica.
Em segundo lugar, manter sempre as consultas veterinárias, vacinas e vermífugos em dia. O acompanhamento periódico com o(a) médico(a) veterinário(a) garante que seu animal esteja amparado e facilita o diagnóstico precoce caso haja alguma enfermidade.
Jamais medicar o animal por conta própria, principalmente com medicamentos de uso humano, pois muitos são potencialmente tóxicos tanto para cães quanto para gatos. E como vimos, alguns medicamentos podem prejudicar seriamente o funcionamento dos rins, predispondo o desenvolvimento da acidose tubular renal. É importante também evitar expor os animais a situações extremas (muito frio ou muito calor) ou a produtos químicos (limpeza, automotivos, venenos etc).
Ao observar qualquer mudança de comportamento ou aparecimento de sinais clínicos, o(a) tutor(a) deve procurar atendimento médico o mais rápido possível.
Referências Bibliográficas
BRAGATO, N. et al. Lesão tubular aguda em cães e gatos: fisiopatogenia e diagnóstico ultrassonográfico. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11 n.22; p. 2015
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