Tudo sobre: Choque Hipovolêmico
Introdução
O choque hipovolêmico é uma condição clínica emergencial causada pela perda de grandes quantidades de sangue, plasma e líquidos do organismo fazendo com que o coração não consiga bombear sangue suficiente para os tecidos. A hipovolemia (diminuição do volume circulante) reduz o retorno venoso com consequente queda do débito cardíaco (volume de sangue bombeado pelo coração por minuto) e da pressão arterial. Há queda do aporte de oxigênio e inadequada produção de energia pelas células. Considera-se choque hipovolêmico quando o paciente perde 30% da volemia em cães e 40% da volemia em gatos. Se as perdas chegam a 50% do volume circulante, o paciente vai a óbito.
A hipovolemia pode ser absoluta ou relativa. A absoluta caracteriza-se pela perda real do volume sanguíneo tanto para o meio externo como para o meio interno. Geralmente está associada a hemorragias graves derivadas de traumatismos, ruptura de órgãos, ferimentos extensos e intoxicações. A hipovolemia relativa não apresenta perda sanguínea direta do espaço intravascular e está relacionada à redução do volume plasmático, água e eletrólitos ocasionada por desidratação grave, vômito e diarreia intensos, doença renal, exercício físico intenso e diurese excessiva.
É didaticamente descrito em três fases. Primeiramente, há o estímulo dos mecanismos de compensação que buscam a elevação do volume circulante, para isso o organismo eleva o débito cardíaco com o aumento dos batimentos cardíacos e da pressão arterial. Esse mecanismo de compensação logo falha e é seguido de alterações metabólicas generalizadas que provocam hipotensão (queda da pressão arterial), diminuição da temperatura corporal, redução da diurese e sinais de depressão central. Por último, há falha na microcirculação, com danos celulares irreversíveis e falência múltipla de órgãos. O choque hipovolêmico é uma das principais causas de óbito em pacientes traumatizados.
Transmissão
-Não se aplica
Manifestações clínicas
Sinais inespecíficos (isolados ou em conjunto):
- Taquicardia
- Taquipneia
- Hipertensão
- Hipotermia
- Hipotensão
- Oligúria
- Anúria
- Cianose
- Desmaio
- Apatia
- Hemorragia
- Distensão abdominal
- Coma
- Desidratação
- Dispneia
Diagnóstico
Associação de sinais clínicos, epidemiologia e exames laboratoriais.
Exames que o médico veterinário pode solicitar:
- Hematócrito (VG)
- Hemograma completo
- Plaquetas
- Tempo de Protrombina
- Albumina
- Glicose
- Proteínas totais + frações
- Ureia
- Creatinofosfoquinase (CPK)
- ALT - TGP
- AST - TGO
- Fosfatase alcalina (F.A)
- Bioquímico - Potássio
- Bioquímico - Sódio
- Bioquímico - Magnésio
- Urinálise simples
- Radiografia simples
- Ultrassonografia abdominal
- Tomografia Computadorizada
Observação: Como se trata de uma afecção emergencial, o(a) clínico(a) priorizará a estabilização do paciente antes da realização dos exames. A realização e a definição de necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário(a).
Tratamento
O principal objetivo do tratamento é a reposição do volume circulante mantendo o equilíbrio de líquidos, em seguida, corrigir os distúrbios metabólicos e melhorar a perfusão microvascular, otimizando o aporte de oxigênio às células, reduzindo assim a mortalidade associada à hipovolemia.
Para isso é fundamental a identificação da causa da perda de líquidos e controle. Dependendo do caso, cirurgias emergenciais podem ser indicadas para reparação de danos e contenção de hemorragia. A sequência de intervenções se baseia em metas de recuperação do animal diretamente relacionadas ao restabelecimento da volemia. São elas: otimização do débito cardíaco e pressão arterial, melhora no transporte de oxigênio no sangue, estabilização da temperatura corporal, melhora na coloração das mucosas, estabelecimento de pulso palpável e recuperação da consciência do paciente.
A decisão quanto ao tipo de solução utilizada na fluidoterapia caberá ao(à) clínico(a) veterinário(a), que avaliará a melhor opção de acordo com as condições do paciente. Não há um protocolo rígido sobre esta questão, pois é um assunto que suscita muita discussão no meio acadêmico.
Prevenção
Não há prevenção específica que impeça o choque hipovolêmico. No entanto, para aumentar as chances de sobrevivência do animal, o(a) tutor(a) do pet deve procurar atendimento médico o mais rápido possível em casos de acidentes domésticos com ferimentos graves, queimaduras, perda de sangue de qualquer origem, brigas com outros animais, atropelamentos, quedas, vômito e diarreia intensos e desidratação intensa. Somente a intervenção emergencial e oportuna é capaz de melhorar a sobrevida do paciente.
Referências Bibliográficas
GUYOTI, V. M. et al. Choque hipovolêmico em um cão com suspeita de intoxicação por cumarínico: relato de caso. Revista de Ciências Agroveterinárias. Lages, v.13, n. supl., p.67-68, 2013
RABELO, R. C. Fluidoterapia otimizada baseada em metas. In: Congreso Latinoamericano de Emergencia y Cuidados Intensivos, 6, 2010, Buenos Aires. Proceedings… Buenos Aires: LAVECCS, 2010.
ZANCAN, R. G. Fluidoterapia no choque hipovolêmico. Monografia (Especialização). Programa de Residência em Área Profissional da Saúde - Medicina Veterinária, Área de Concentração de Cirurgia/Anestesiologia da Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 2014.