Tudo sobre: Choque Séptico
Introdução
O choque séptico é uma síndrome frequente na clínica de pequenos animais, possui caráter emergencial e é associada a elevados índices de morbidade e mortalidade. É resultado do agravamento de um quadro de sepse com o surgimento da falência circulatória aguda, caracterizada pela hipotensão arterial persistente mesmo com volume sanguíneo normal.
A sepse é causada pela invasão de micro-organismos e/ ou suas toxinas que provocam a Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SRIS). De acordo com algumas características desses agentes (sejam eles vírus, bactérias, fungos ou protozoários) e do hospedeiro, o sistema imune do indivíduo se mobiliza como um todo produzindo e lançando na circulação sanguínea uma carga excessiva de mediadores inflamatórios para combater o potencial invasor.
No entanto, a grande quantidade desses mediadores químicos pode provocar alterações circulatórias graves culminando num quadro de choque (incapacidade do sistema circulatório em fornecer oxigênio aos tecidos, levando às diversas disfunções orgânicas). A gravidade deste quadro encontra-se na intensidade do fator desencadeante, do tempo decorrido desde a instalação do choque, da capacidade de compensação do organismo e da adequação na instituição do tratamento.
Em cães, a causa mais comum de sepse grave e consequente choque séptico é a peritonite, geralmente secundária à ingestão de corpos estranhos, neoplasias gastrointestinais, enterotomias e ruptura uterina por piometra. Em gatos, a ocorrência de sepse está associada a abscessos hepáticos, piotórax, bacteremia, pneumonia, endocardite, pielonefrite, piometra, pancreatite séptica e meningite.
Transmissão
- Não se aplica
Manifestações clínicas
Sinais inespecíficos (isolados ou em conjunto):
- Pirexia
- Hipotermia
- Oligúria
- Taquipneia
- Taquicardia
- Edema
- Anorexia
- Bradicardia
- Apatia
- Hipotensão arterial
- Alteração no tempo de preenchimento capilar
- Desmaio
- Coma
Diagnóstico
Associação de sinais clínicos, epidemiologia e exames laboratoriais.
Exames que o(a) médico(a) veterinário(a) pode solicitar:
- Hemograma completo
- Albumina
- Ureia
- Creatinina
- Bilirrubinas (Direta, Indireta e Total)
- ALT – TGP
- AST – TGO
- Glicose
- Proteínas totais + Frações
- Hemocultura
- Urinálise simples
- Antibiograma
- Fosfatase alcalina (F.A)
- Bioquímico - Potássio
- Bioquímico - Sódio
- Bioquímico - Magnésio
- Radiografia simples
- Ultrassonografia abdominal
- Tomografia Computadorizada
- Creatinofosfoquinase (CPK)
Observação: A realização e a definição de necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário(a).
Tratamento
O paciente em choque deve ser atendido o mais rápido possível, pois a rápida intervenção pode ser determinante na sobrevida do animal. O objetivo do tratamento compreende quatro pontos-chaves para melhorar e maximizar a oferta de oxigênio para os tecidos. São eles:
- Suporte hemodinâmico - através da fluidoterapia espera-se normalizar a pressão arterial, o tempo de preenchimento capilar, a qualidade e frequência do pulso femoral, coloração de mucosas e temperatura;
- Controle da infecção - o(a) médico (a) veterinário(a) deve identificar o foco da infecção por meio de exames complementares, partindo da avaliação dos pulmões e abdome, e análise de sangue, urina e feridas. Enquanto espera o resultado das análises laboratoriais, pode ser instituído o uso de antibióticos de amplo espectro;
- Intervenções imunomoduladoras e metabólicas - para correção dos distúrbios metabólicos como a hipoglicemia e a acidose metabólica;
- Suporte endócrino - uso de glicocorticóides para restabelecimento da pressão arterial e resistência vascular sistêmica.
Além dessas, o(a) médico(a) veterinário(a) pode utilizar outras terapias adjuvantes conforme achar necessário e benéfico para estabilização e recuperação do paciente.
Prevenção
Não há prevenção específica que impeça o choque séptico. No entanto, para aumentar as chances de sobrevivência do animal, o(a) tutor(a) deve procurar atendimento médico o mais rápido possível em casos de acidentes domésticos com ferimentos graves, queimaduras, brigas com outros animais, vômito e diarreia intensos, febre alta e prolongada, desidratação intensa ou outros sinais clínicos que sugiram uma doença.
Somente a intervenção emergencial e oportuna é capaz de aumentar a sobrevida do paciente.
Referências Bibliográficas
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