Tudo sobre: Encefalopatia Isquêmica Felina
Introdução
A encefalopatia isquêmica felina (EIF) é uma afecção neurológica ainda pouco compreendida e estudada. Trata-se de uma doença em que ocorre isquemia de regiões do cérebro, ou seja, o sangue não chega a determinados locais que, sem a nutrição necessária para as células, perdem sua função e há degeneração do tecido nervosos. O sistema nervoso central (SNC) é rapidamente afetado por falta de vascularização, por isso os sinais clínicos têm o início hiperagudo. A maioria dos estudos em animais advém da literatura humana, uma vez que as lesões isquêmicas (como o AVC - Acidente Vascular Cerebral) são consideradas problemas graves e acometem um elevado número de pessoas atualmente.
Uma das causas de EIF é a presença de larvas de mosca do gênero Cuterebra (miíase) no sistema nervoso, após migrarem das narinas (migração transnasal) e bloquearem a passagem do sangue e sua chegada a diversas regiões do SNC. Outra causa é o acidente vascular, que consiste no espasmo de artérias cerebrais, os chamados vasoespasmos, que “fecham” o vaso responsável pelo transporte do sangue. Porém, o que leva estes vasos a sofrerem esta alteração não é totalmente definido, mas nestes casos os pacientes mais acometidos são geriátricos, principalmente em decorrência da síndrome da disfunção cognitiva. É relatado que qualquer estímulo danoso ao sistema nervoso, como infecções e traumas, leva à produção e liberação de radicais livres e consequentemente aos vasoespasmos.
Alguns sinais, como a convulsão, surgem como complicação e podem aparecer meses depois do infarto cerebral, ou seja, o início da doença é súbito, mas a evolução do quadro pode durar de dias a meses.
Transmissão
-Não se aplica
Manifestações clínicas
- Alterações de comportamento
- Paresia
- Paralisia
- Gemidos
- Head tilt
- Head pressing
- Hiperalgia
- Inclinação da cabeça
- Letargia
- Ptose palpebral
- Ptose labial
- Ptose auricular
- Convulsão
- Coma
Diagnóstico
- Hemograma
- Análise de líquor
- Tomografia computadorizada
- Ressonância magnética
Observação: A realização e a definição da necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário(a).
Tratamento
O tratamento da isquemia cerebral consiste na eliminação da causa da isquemia e restabelecimento do fluxo sanguíneo cerebral, o que deve ocorrer durante o tratamento emergencial e estabilização do(a) paciente. Num segundo momento, é necessário evitar a progressão das lesões cerebrais decorrentes da interrupção do fluxo sanguíneo, como o estresse oxidativo cerebral e a neuroinflamação.
Se o animal for levado rapidamente para atendimento médico, pode ser feito um protocolo de restabelecimento de fluxo, que consiste na drenagem do sangue cerebral pelas veias jugulares (no pescoço) e manutenção do animal com a cabeça elevada para facilitar o fluxo. As alterações que geram risco iminente de morte, como disfunção respiratória, devem ser tratadas de forma emergencial com hiperventilação. Como consequência da isquemia, surge também o edema cerebral, que é tratado com medicação específica para eliminação de líquido. Em casos de convulsão, deve-se utilizar medicamentos anticonvulsivantes no ambiente hospitalar.
De modo geral, as opções terapêuticas para encefalopatias de origem parasitária são limitadas e o prognóstico é ruim. Um protocolo com melhores resultados consiste na associaçÃo de antibiótico, anti-histamínico e corticóide. Estudos citam também o uso da ivermectina, que deve ser criterioso e devidamente prescritos por causa de efeitos colaterais importantes.
Após a fase de urgência, quando há recuperação do paciente, são utilizados neuroprotetores e oxigenadores cerebrais com o intuito de melhorar as sequelas deixadas pela isquemia. Diversas medicações estão descritas em literatura, desde agentes naturais a fármacos sintéticos, e cabe ao(à) profissional estabelecer a terapia mais adequada. Os antibióticos da classe das tetraciclinas também são utilizados no tratamento de infecções secundárias e possuem função neuromoduladora.
A fisioterapia é parte essencial do tratamento para que o animal recupere o máximo possível das funções perdidas pela lesão cerebral.
Prevenção
-Não se aplica
Referências Bibliográficas
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