Tudo sobre: Hipercapnia
Introdução
A hipercapnia é uma alteração metabólica que consiste num aumento do dióxido de carbono (CO²) no sangue, principalmente o arterial. Em condições normais, o sangue arterial (sangue “novo”) possui mais oxigênio do que CO², pois é responsável por alimentar os órgãos e tecidos. Em contrapartida, o sangue venoso (sangue “velho”) é aquele que limpa os metabólitos teciduais e por isso possui mais CO² do que oxigênio. Essa troca de gases e renovação ocorre nos pulmões e, por isso, a hipercapnia normalmente é consequência de distúrbios respiratórios, podendo ser uma complicação de anestesia. Além disso, é responsável pelo desenvolvimento de acidose, ou seja, redução do pH (acidificação) sanguíneo.
Qualquer que seja o motivo para a hipoventilação, ou seja, ventilação insuficiente do pulmão, há uma troca gasosa insuficiente e o sangue arterial circula no organismo com uma concentração maior do dióxido de carbono e menor de oxigênio, causando efeitos sistêmicos graves. Doenças como asma felina, bronquite crônica canina, colapso de traqueia, tumores pulmonares, edema pulmonar de origem cardiogênica e pneumonias podem levar ao problema. Condições ambientais também têm como consequência a hipercapnia, como convívio com fumantes e a permanência em áreas de muita poluição e fumaça. Durante procedimentos anestésicos em que a respiração do paciente é controlada pelo(a) anestesista, essa alteração pode ocorrer e, por isso, as anestesias demandam uma atenção especial nesse sentido.
Um caso mais grave que leva à hipercapnia é a síndrome da angústia respiratória, em que o animal não consegue respirar normalmente, sendo uma das alterações que antecedem o óbito de pacientes graves.
Transmissão
-Não se aplica
Manifestações clínicas
- Taquipneia
- Dispneia
- Cansaço excessivo
- Intolerância ao exercício
- Apatia
- Desmaio
- Fraqueza
- Letargia
Diagnóstico
- Exame clínico associado ao histórico do paciente
- Hemogasometria (medição dos gases no sangue)
Observação: A realização e a definição da necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário(a).
Tratamento
Para reverter a hipercapnia de forma provisória, deve-se realizar uma abordagem emergencial do(a) paciente com ventilação rica em oxigênio. Se a oxigenoterapia comum não for suficiente, pode ser necessário anestesiar e colocar esse paciente em ventilação controlada (ventilação mecânica) após intubação traqueal, porque além de fornecer oxigênio é essencial melhorar a troca gasosa adequada para expulsão do dióxido de carbono (se o animal sozinho não consegue realizar essa ventilação adequadamente, métodos mais intervencionistas devem ser realizados).
O(a) paciente deve permanecer hospitalizado e é necessária a realização de monitorização cardíaca, da pressão arterial e oximetria de pulso. Medicações como corticóides e broncodilatadores podem ser úteis para expandir as vias aéreas e reduzir a inflamação local. Após estabilização do(a) paciente, é preciso buscar e tratar a causa primária do problema. Pneumonias devem ser tratadas de acordo com o microrganismo causador (bactéria ou fungo), o edema pulmonar pode ser tratado com diuréticos (e melhoria da função cardíaca), a asma e a bronquite tendem a ser problemas crônicos que precisam de controle com um tratamento longo (como utilização de bombinhas e medicações a longo prazo) etc.
A hipercapnia é uma manifestação de uma doença base e deve ser revertida o quanto antes, mas após melhora do quadro, a doença principal deve ser tratada adequadamente para evitar recorrência. A melhoria ambiental também é fundamental nas terapias respiratórias.
Se o aumento de CO² ocorrer durante anestesia, cabe ao(à) responsável corrigir o problema através de mudança no mecanismo da ventilação que está sendo usado, aumentando a frequência respiratória e a disponibilidade de oxigênio.
Prevenção
Manter os pacientes com doenças respiratórias e cardíacas compensados evita evolução para hipercapnia, sendo fundamental acompanhamento periódico de um(a) profissional qualificado(a). Não manter cães e gatos em ambientes com muita fumaça e próximo de fumantes também é essencial.
Referências Bibliográficas
Corrêa, M.N.; González, F.H.D. e Silva, S.C. Transtornos Metabólicos nos Animais Domésticos. 2010. Porto Alegre: Editora Universitária. 520p.
Dibartolas, S.P. Anormalidades de Fluidos Eletrólitos e Equilíbrio Ácido-Básico na Clínica de Pequenos Animais. 2007. 3ed. São Paulo:Roca. 680p.