Tudo sobre: Inércia Uterina
Introdução
A inércia uterina caracteriza-se pela ausência ou perda de contratilidade do útero na fase de expulsão do concepto, sendo causa importante de distocia (incapacidade de expulsar o feto) em cadelas e gatas. Pode ocorrer em quaisquer raças, mas há relatos de maior ocorrência em cadelas e gatas braquicefálicas e dolicocefálicas e em primíparas (primeiro parto).
A inércia uterina pode ser primária ou secundária. A inércia primária ocorre quando há falhas na contração uterina, isso se deve principalmente a falhas de estímulos endógenos. Essa falta de estímulo pode ser decorrente da gestação de feto único, em casos de hidropsia (acúmulo de líquido externamente ao feto e em suas cavidades, causando edema generalizado), quando os fetos são muito grandes, em casos onde o filhote é anencefálico, em decorrência de distúrbios nutricionais, infiltração de gordura, disfunções hormonais e outras doenças sistêmicas. Causas iatrogênicas (alterações causadas pelo médico veterinário responsável) também estão envolvidas nesse tipo de disfunção. É o que ocorre quando se utiliza progestágenos de longa ação após o acasalamento com a intenção de impedir a gestação.
A inércia uterina secundária ocorre devido à exaustão da musculatura uterina causada principalmente por obstrução do canal do parto. Isso pode ocorrer pela presença de tumores que impedem a passagem do feto, fetos que ficam retidos na região externa no canal, distocias fetais intrauterinas por dilatação insuficiente, ninhadas muito grandes promovendo trabalho de parto prolongado, ruptura e torção uterina. O estresse da mãe no momento do parto também pode gerar inércia secundária. Isso pode ocorrer, pois a adrenalina liberada no estresse ocupa o lugar do hormônio ocitocina, importantíssimo para o parto.
Transmissão
-Não se aplica
Manifestações clínicas
Específicas
- Distocia
- Tempo prolongado de parição
- Fetos sem movimentação aparente
- Fetos sem batimentos cardíacos na ausculta, ou com batimentos reduzidos
Inespecíficas (isoladas ou em conjunto)
- Apatia
- Inquietação
- Baixo escore corporal
- Hipotermia
- Mucosas pálidas
- Angústia respiratória
- Distensão abdominal
- Secreção vaginal de cor anormal
- Animal em decúbito prolongado
- Dificuldade de deambulação
Diagnóstico
- Histórico
- Exame físico
- Exame interno (palpação digital)
- Palpação abdominal
- Radiografia abdominal
- Ultrassonografia abdominal
- Dosagem de glicemia
- Dosagem de Cálcio
Observação: A realização e a definição de necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário(a).
Tratamento
O ponto inicial é descobrir a causa da inércia para a instituição de um tratamento adequado. Para inércia primária o(a), o médico(a) veterinário(a) pode utilizar reposição de cálcio, fundamental para a contração da musculatura uterina. Glicose também é preconizada. Se o animal mesmo assim não conseguir expulsar os fetos, pode-se repetir o cálcio e se associa ocitocina. Não havendo expulsão do feto, pode-se optar pela cesariana. Em animais muito agitados, que ocorre geralmente no primeiro parto, pode ser necessário o uso de tranquilizantes.
É importante lembrar que o ambiente adequado, silencioso, sem movimento de pessoas, com baixa luminosidade é mais propício para o bem estar do animal em trabalho de parto.
A instituição do tratamento adequado fica a critério do médico veterinário.
Prevenção
A castração é a opção mais adequada para evitar gestações indesejadas em cadelas e gatas, sendo veementemente não recomendado o uso de progestágenos exógenos (injeções contra o cio) para interrupção de gestações.
Evitar o cruzamento de fêmeas pequenas com machos muito grandes também é uma medida de prevenção para a inércia uterina e distocias. Dieta adequada deve ser implementada para fêmeas prenhes.
O acompanhamento gestacional pode ser realizado pelo(a) médico(a) veterinário(a) e no momento da parição o ambiente deve ser tranquilo para evitar estresse na fêmea, prevenindo problemas de distocia.
Referências Bibliográficas
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