Tudo sobre: Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Felina (FIV)
Introdução
A imunodeficiência felina, também denominada de FIV, é causada por um vírus da família Retroviridae, subfamília Lentiviridae, sendo morfologicamente semelhante e antigenicamente distinto do vírus da imunodeficiência humana (HIV). É uma doença infecciosa não zoonótica que acomete principalmente gatos machos e mais velhos que têm acesso à rua, sendo que essa categoria é a que mais apresenta sintomatologia clínica. A média de idade de gatos saudáveis naturalmente infectados é de três anos, e de gatos naturalmente infectados e doentes é de 10 anos. Esse vírus se replica em várias células do sistema imunológico, tais como linfócitos e macrófagos, e pode acometer felinos selvagens como o pumas, leões e leopardos.
A infecção inicial geralmente é caracterizada por febre, diminuição dos neutrófilos sanguíneos e aumento dos linfonodos de forma generalizada. Depois dessa fase, o animal pode apresentar infecção subclínica, que tem tempo variável. Porém, após alguns meses, ocorre uma queda importante da imunidade do gato, semelhante ao que ocorre na síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) em seres humanos.
Coinfecções pelo vírus da leucemia felina (FeLV) podem potencializar a imunodeficiência causada pela FIV. As síndromes clínicas que podem ocorrer associadas à infecção pelo vírus da FIV são as gastrointestinais, glomerulonefrite, hematológicas, neoplásica, neurológica, ocular e insuficiência renal, e estão relacionadas à diversos agentes, tais como bactérias, vírus e protozoários. Alguns gatos podem passar a vida sem nenhum tipo de manifestação clínica.
A prevalência de anticorpos contra FIV em gatos é muito variável nas diferentes regiões geográficas no mundo, dependendo do estilo de vida e da região, sendo de 2,5% na América do norte. No Brasil, um estudo realizado em 1993 detectou a prevalência de 6,5% da FIV em gatos assintomáticos. Gatos com gengivite apresentam uma taxa de infecção pelo vírus da FIV maior do que 50%.
Transmissão
- Mordeduras por gatos infectados
- Inseminação artificial
- Transplacentária
- Perinatal (das gatas infectadas para os filhotes)
- Fômites/ objetos comuns (incomum)
Manifestações clínicas
- Anorexia
- Anemia (detectada por exame de sangue)
- Emagrecimento
- Depressão
- Pirexia
- Linfadenopatía generalizada
- Diarreia crônica
- Uveíte
- Insuficiência renal
- Alterações comportamentais/ manifestações neurológicas:
- Demência
- Permanência em esconderijos
- Agressividade
- Evacuação inadequada
- Higienização inadequada
- Lambeduras
- Convulsões
- Nistagmo
- Ataxia
Diagnóstico
Associação da anamnese detalhada aos exame físico e complementares pelo(a) médico(a) veterinário(a). Exames que podem ser solicitados:
-Hemograma completo
-Citologia da punção aspirativa da medula óssea
-Bioquímica sérica
-Ensaio imunoenzimático (ELISA) para a detecção de anticorpos séricos contra a FIV
-ET-PCR ou imunoensaio de Western Blot (prova molecular - isolamento viral)
Observação: A realização e a definição da necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário(a).
Tratamento
O tratamento prioriza primeiramente a recuperação clínica do animal em relação à potenciais síndromes clínicas que o gato apresente em associação com a infecção da FIV. Caso exista coinfecção com outra doença infecciosa, devem ser utilizadas drogas antimicrobianas na dosagem máxima, sendo em muitos casos necessária a utilização por longos períodos.
Existem vários fármacos antilentivírus que podem ser utilizados para o tratamento de gatos infectados pelo vírus da FIV, como por exemplo o Interferon, que demonstrou melhora clínica em alguns estudos, bem como associação com o aumento da sobrevida. Medicamentos imunomoduladores podem ser utilizados, mas sem comprovação de eficácia por estudos. A eritropoetina pode ser utilizada para aumentar o número de hemácias e leucócitos no sangue.
Prevenção
Para evitar a ocorrência da infecção em felinos domésticos, é recomendado que os gatos não tenham acesso à rua, e que permaneçam dentro dos domicílios para evitar a ocorrência de brigas e transmissão do vírus. Além disso, antes da introdução de um novo gato em uma residência com gatos soronegativos, deve ser feito o teste nesse animal. Fora do hospedeiro, o vírus sobrevive apenas alguns minutos, sendo suscetível a maioria dos desinfetantes, como o sabão comum.
Recomenda-se que as caixas de areia e comedouros compartilhados entre diferentes gatos sejam limpos com água fervente e detergente, que inativam o vírus. Caso ocorra histórico de briga com outro gato, o felino deve ser testado dentro de 60 dias.
Em casos de gatos soropositivos, os mesmos devem permanecer dentro dos domicílios para evitar a transmissão do vírus para outros animais, bem como diminuir as chances de infecções oportunistas.
Filhotes de gatas positivas não devem ser aleitados por ela, para que não sejam infectados pelo vírus.
Referências bibliográficas
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