Tudo sobre: Infecção pelo Vírus da Leucemia Felina (FeLV)
Introdução
A leucemia felina é uma doença infecciosa importante para os felinos domésticos, causada por um vírus da família Retroviridae, sendo denominado Gammaretrovírus. Esses vírus têm a capacidade de diminuir de forma progressiva o número de linfócitos sanguíneos, ou seja, diminuir a resposta imunológica dos animais infectados, aumentando as chances de ocorrência de infecções crônicas, o que resulta em alta taxa de morbidade e mortalidade nesses animais. O vírus da leucemia felina (FeLV) é um retrovírus oncogênico, ou seja, induz a formação de neoplasias tais como o linfoma. Além disso, existem outras enfermidades degenerativas e proliferativas associadas à infecção por esse agente.
Uma vez que o gato é infectado, o mesmo acaba por sucumbir às doenças associadas em poucos meses ou anos, tais como a infecção pelo vírus da imunodeficiência felina (FIV), complexo respiratório viral felino, toxoplasmose, micoplasmose hemotrópica, linfomas, leucemias e carcinomas epidermóides. Sabe-se que gatos infectados pelo vírus da leucemia felina têm 60 vezes mais chance de desenvolver linfoma mediastinal ou multicêntrico do que gatos saudáveis. E aproximadamente metade dos gatos com linfoma multicêntrico são positivos para a FeLV. Já no caso dos fibrossarcomas, apenas 2% são induzidos por vírus, e 30% resultam em metástase para os pulmões e outros órgãos.
A prevalência mundial de ocorrência do vírus da FeLV varia de 1 a 38% nas populações de gatos ao redor do mundo. Não só os gatos, mas os felinos selvagens também podem ser infectados. A prevalência no Brasil foi detectada por meio de pesquisas sorológicas e PCR (Reação em Cadeia da Polimerase- técnica molecular), tanto em gatos de rua como domiciliados, nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, sendo de 8,0% a 63%.
Apesar de ocorrer eliminação de partículas virais nas secreções respiratórias, lágrimas, fezes, urina, sêmen e leite de felinos persistentemente infectados, a transmissão de fato ocorre pela saliva. Sendo assim, o compartilhamento de recipientes conteúdo água e comida entre gatos pode levar à infecção de animais saudáveis. O contato direito entre esses animais também pode levar à infecção de gatos sadios.
Menos comumente, o vírus pode ser transmitido de forma transplacentária, a partir de uso de instrumentos contaminados e através da transfusão sanguínea.
Transmissão
- Contato direto
- Transplacentária
- Fômites
- Alimentos contaminados
- Água contaminados
- Transfusão sanguínea
Manifestações clínicas
Inespecíficos e variam de acordo com o órgão acometido:
- Anorexia
- Pirexia
- Emagrecimento
- Desidratação
- Apatia
- Linfadenomegalia
- Mucosas pálidas
- Gengivite
- Estomatite
- Uveíte
- Dispneia
- Enterite
- Abscessos que não cicatrizam
- Neuropatias
- Distúrbios reprodutivos
Diagnóstico
Associação da anamnese detalhada aos exame físico e complementares pelo(a) médico(a) veterinário(a). Exames que podem ser solicitados:
- Hemograma completo
- Teste sorológico para a detecção do antígeno viral p27
- ELISA (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay/ Ensaio de Imunoabsorção Enzimática)
- Testes rápidos imunocromatográficos
- Imunofluorescência indireta (IFI)
- PCR (prova molecular para detectar o DNA proviral do FeLV)
Observação: A realização e a definição da necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário(a).
Tratamento
O tratamento da infecção do vírus da FeLV em felinos domésticos depende do tipo de doença concomitante. Quando a forma neoplásica está presente, a quimioterapia pode ser empregada, mas o prognóstico é desfavorável.
No caso dos linfomas, deve ser realizada quimioterapia associada à terapia suporte, com o uso de antibióticos, fluidoterapia e suporte nutricional. Já a utilização de glicocorticóides é pouco efetiva e deve ser utilizada apenas em animais que não respondem à quimioterapia.
No caso das leucemias, a quimioterapia apresenta resultados ruins, com remissão em torno de 27% em gatos tratados.
Para inibir a replicação viral, o Interferon felino recombinante ômega pode ser utilizado. No entanto, não há comprovação da eficácia na eliminação do vírus, e esse tratamento pode ser necessário ao longo de toda a vida do animal.
Prevenção
Primeiramente, é importante ter conhecimento da soropositividade do gato, uma vez que o desconhecimento representa um risco aos animais com os quais tem contato. Em domicílios em que um gato é FeLV positivo, todos os demais (felinos) devem ser testados. Os animais positivos devem ser isolados, e é essencial evitar o compartilhamento de objetivos, brinquedos e vasilhas de comida e água entre gatos positivos e negativos. Em casa, após o contato com o gato positivo, o proprietário deve lavar bem as mãos antes de entrar em contato com gato soronegativos, uma vez que o vírus da FeLV é sensível ao sabão.
A vacinação é recomendada em situações específicas. Os filhotes devem ser vacinados, bem como gatos que vivem em ambientes externos ou que convivem com gatos não testados para FeLV. Devem ser administradas duas doses da vacina num intervalo de três a quatro semanas, com reforço anual. Quando a vacinação é realizada pela primeira vez, o gato deve permanecer confinado durante duas semanas até que desenvolva resposta imune adequada. É importante saber, no entanto, que a vacinação não tem 100% de eficácia em relação à proteção de possíveis infecções.
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