Tudo sobre: Infestação por Trematódeos
Introdução
Os trematódeos são parasitas achatados que encontram morada em diversas partes do corpo, podem estar presentes em vasos sanguíneos, nos pulmões e órgãos do sistema digestório, como os intestinos e fígado. Cada espécie de trematódeos apresenta sua predileção por hospedeiro (cão, gato, homem etc.) e pelo local do corpo onde se aloja e se reproduz. Existem trematódeos que apesar de já terem sido relatados no Brasil são bastante raros por aqui, como é o caso do Echinostoma spp., que tem sua importância por se tratar de uma zoonose, ou seja, pode ser transmitido também ao homem.
Muitos dos trematódeos são vermes hepáticos, como é o caso do Clonorchis sinensis, causador da doença clonorquíase ou doença hepática do linguado chinês, que causa dores fortes na parte superior do abdômen (onde se localiza o fígado) e se não tratada pode causar sérios danos ao processo de digestão, levando ao profundo enfraquecimento do animal e podendo causar a morte.
A opistorquíase é a doença causada pelos trematódeos Opisthorchis viverrini e Opisthorchis felineus que acometem principalmente os felinos e apresenta sintomas e evolução muito parecidas com a clonorquíase. A maior parte das infecções ocasionam sintomas comuns como diarreia, constipação e desconforto, porém nos casos em que a doença permanece não tratada por longos períodos, pode evoluir para complicações como desnutrição (pelos danos causados ao sistema digestório), inflamação grave do fígado e até câncer do ducto biliar. Esses vermes hepáticos são transmitidos através do consumo de peixes crus ou mal cozidos que estejam contaminados com os parasitas e são mais comuns em países do sudoeste asiático por seus hábitos alimentares.
Fascíolas pulmonares, como são conhecidos os vermes Paragonimus spp., são transmitidas principalmente através do consumo de crustáceos crus ou mal cozidos, como camarões e caranguejos, mas podem também ser transmitidos pela carne suína crua que esteja contaminada. As fascíolas pulmonares afetam cães, gatos e também o homem e podem não apresentar sintomas no início da infecção, porém com o decorrer do tempo podem causar tosse, febre e dificuldades respiratórias, podendo chegar a ocasionar morte súbita.
O Platynosomum factosum é o parasita hepático mais importante nos gatos. Este parasita se fixa nos ductos biliares e vesícula biliar dos felinos, provocando quadros graves de icterícia, emagrecimento acompanhado de vômitos e falta de apetite e pode inclusive culminar em morte, apesar de muitos casos permanecerem sem sintomas por longos períodos. Em seu ciclo de vida, este trematódeo precisa passar por hospedeiros intermediários como sapos, moluscos e lagartixas, que posteriormente são ingeridos pelos felinos, seus hospedeiros definitivos. A doença provocada pelo Platynosomum factosum é chamada de platinosomíase, sendo bastante difícil seu diagnóstico e controle por apresentar sintomas inespecíficos.
Transmissão
- Água contaminada
- Alimentos contaminados
- Ingestão de hospedeiros intermediarios
Manifestações clínicas
Assintomático
Sinais inespecíficos (isolados ou em conjunto):
- Emagrecimento
- Caquexia
- Apatia
- Êmese
- Diarreia
- Constipação
- Dor abdominal
- Pirexia
- Tosse
- Dispneia
Diagnóstico
Associação de sinais clínicos, epidemiologia e exames laboratoriais.
Diagnóstico definitivo: visualização dos ovos do parasita.
Exames que o(a) médico(a) veterinário(a) pode solicitar:
- Parasitológico de Fezes
- Ultrassonografia abdominal
- Hemograma
- Albumina
- Imunoglobulina A (IgA)
- Imunoglobulina G (IgG)
- Imunoglobulina M (IgM)
- Ureia
- AST – TGO
- ALT – TGP
- Fósforo
- Gama GT
- CPK (creatinofosfoquinase)
- Fosfatase Alcalina (F.A.)
Observação: A realização e a definição de necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário(a).
Tratamento
O tratamento das infecções é realizado com anti-parasitários de escolha do(a) médico(a) veterinário(a) que se mostram eficazes para infecções por trematódeos, como Platynosomum factosum e outras fascíolas hepáticas. A terapia suporte com fluidoterapia e nutrição parenteral pode ser necessária de acordo com o quadro do paciente, assim como antieméticos, analgésicos e antibióticos para casos de infecções secundárias.
Prevenção
A prevenção das infecções por trematódeos consiste do tratamento dos animais infectados, isolamento de ambientes contaminados e medidas de higiene ambiental, principalmente em canis e gatis que apresentem casos confirmados.
É importante restringir o acesso livre dos pets à rua, onde podem contrair diversas doenças e tentar evitar a predação de outros animais, por mais difícil que esta tarefa seja, uma vez que esses animais podem hospedar uma grande diversidade de parasitas.
Recomenda-se também acompanhamento periódico com médico(a) veterinário(a) a fim de manter a saúde dos pets, facilitando o diagnóstico precoce de eventuais enfermidades.
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