Tudo sobre: Luxação de Cristalino
Introdução
Cristalino ou lente é uma estrutura ocular transparente, sem vascularização ou inervação, biconvexo e responsável pela refração da luz. Localizado entre a íris e o humor vítreo, é sustentado por um ligamento e composto majoritariamente por proteínas. A luxação da lente ocorre quando esta sai de sua posição normal, geralmente como resultado da ruptura dos ligamentos que a sustentam. Na luxação, o cristalino pode se deslocar para a frente da câmara anterior, o que pode causar aumento da pressão no olho devido obstrução da filtração ocular. O cristalino também pode se deslocar para a região posterior e os danos gerados são menores. Quando ocorre lesão parcial no ligamento há subluxação do cristalino que se apresenta móvel, porém não sai completamente de sua posição anatômica correta.
A luxação de cristalino pode ser classificada em congênita, primária e secundária, que pode ter origem em traumas ou a outras doenças oculares. A luxação congênita ocorre quando há anormalidades no desenvolvimento, acarretando deformações nos ligamentos que fixam o cristalino em sua posição normal e ocorre em animais jovens. Algumas raças são mais predispostas como Cavalier King Charles Spaniel e Old English Sheepdog.
A luxação primária ocorre em função de anormalidades nos ligamentos que apresentam defeitos anatômicos bilaterais que levam ao deslocamento parcial ou total da lente. Tem caráter hereditário, ligada a genes autossômicos dominantes (na maioria dos casos) e acomete com maior frequência cães Terriers como Fox Terrier, Sealyham, Cairn Terrier, Lakeland, Manchester, Bull Terrier Miniatura, Norfolk, Norwich, Scottish Terrier, Skye Terrier, Toy Fox, West Highland White Terrier entre outros. A luxação primária também é reportada em Tibetanos e Border Collies. Sem predisposição sexual, são acometidos animais de meia idade, entre três e oito anos de vida. Em gatos, tanto a luxação congênita quanto a primária são pouco relatadas e as causas para luxação em felinos muitas vezes não são bem definidas. Nos felinos, as luxações não têm predisposição racial e sexual e acomete animais mais velhos (senis).
Luxações secundárias ocorrem em função de diversas doenças oculares como o glaucoma, catarata, uveítes ou serem geradas por trauma. Geralmente são unilaterais, sem predisposição racial, de sexo ou de faixa etária.
As luxações de cristalino geralmente têm início abrupto e a evolução depende de vários fatores como por exemplo a excitabilidade do animal, o ambiente onde vive e a causa primária. Se a luxação for primária e for observada em apenas um olho inicialmente, é importante informar que inevitavelmente o outro olho será acometido.
Transmissão
-Caráter hereditário (luxação primária)
Manifestações clínicas
Assintomático
Sinais inespecíficos (isolados ou em conjunto):
-Dor ocular
-Irritação ocular de leve a moderada
-Blefaroespasmo
-Lacrimejamento
-Hiperemia conjuntival
-Edema de córnea
-Opacificação de córnea
-Vascularização de córnea
-Aumento da pressão intraocular
-Iridodonesis
-Aparecimento de material brancacento na borda da pupila
-Irregularidade na pupila
-Abaulamento local da íris
-Comprometimento da visão
Diagnóstico
Associação de sinais clínicos, exame físico e oftalmológico.
Exames que o médico veterinário pode solicitar:
-Gonioscopia
-Tonometria
-Oftalmoscopia
-Ultrassonografia ocular
Observação: A realização e a definição de necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário(a).
Tratamento
O tratamento para luxação é prioritariamente cirúrgico e consiste na extração do cristalino ou na ancoragem da lente, que é um método mais conservativo. Existem diversas técnicas mais ou menos invasivas para extração do cristalino e o médico veterinário irá ponderar sobre a mais adequada. Alguns fatores são importantes para a escolha do procedimento como a posição do cristalino (anterior ou posterior), infecções e inflamações decorrentes do tempo de luxação, aumento da pressão intraocular, dor excessiva, tempo decorrido do início da luxação e viabilidade da visão. Medicamentos podem ser administrados à critério médico no pré-cirúrgico. Após a extração do cristalino, a perda refração da luz é inevitável e a imagem captada apresentará embaçamento. A perda parcial ou total da visão pode ocorrer se houverem danos à retina e a opção pela extração do globo ocular pode ser considerada em determinados casos mais graves.
O acompanhamento pós-cirúrgico, bem como o manejo por parte do tutor é fundamental para a recuperação do paciente.
Prevenção
Não há como prever luxações de cristalino, porém animais predispostos devem ser acompanhados pelo médico veterinário em visitas periódicas. Em casos de luxação primária, como tem caráter hereditário, é recomendado retirar da reprodução os animais acometidos.
Referências Bibliográficas
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