Tudo sobre: Miocardiopatia Hipertrófica
Introdução
A miocardiopatia hipertrófica (MCH), também chamada de cardiomiopatia hipertrófica primária ou idiopática, é caracterizada por anormalidades estruturais e funcionais no miocárdio (músculo do coração) que resultam em um espessamento concêntrico, difuso ou localizado, do ventrículo esquerdo (VE) sem a ocorrência de dilatação ventricular. Trata-se da desordem cardíaca mais prevalente nos felinos domésticos, comumente associada à insuficiência cardíaca congestiva (ICC), tromboembolismo e morte súbita, apresentando altas taxas de mortalidades e letalidade.
O espessamento do miocárdio causa aumento da rigidez ventricular e alterações no relaxamento cardíaco, prejudicando o enchimento do VE e aumentando a pressão diastólica. Em gatos com MCH, o átrio geralmente aumenta de tamanho e pode ocorre hipertrofia do septo interventricular em conjunto com a hipertrofia simétrica ou assimétrica do ventrículo esquerdo e, em alguns casos, a hipertrofia é limitada à parede livre do VE ou aos músculos papilares. Alguns gatos apresentam a CMH obstrutiva, que consiste em uma obstrução dinâmica do fluxo de saída de sangue durante a sístole, aumentando o estresse da parede cardíaca e a demanda miocárdica de oxigênio, desenvolvendo isquemia miocárdica. Pressões de enchimento do VE cada vez maiores resultam em dilatação progressiva do átrio esquerdo predispondo à formação de trombo, que pode resultar em tromboembolismo sistêmico quando deslocado, bem como congestão e edema pulmonar.
A etiologia da CMH primária ou idiopática em felinos ainda é desconhecida na maioria dos casos, mas em algumas raças como Maine Coon, Ragdoll e American Shorthair, foi identificada como uma anormalidade hereditária. A prevalência também é alta nas raças British ShortHair, Norwegian Forest Cat, Scottish Fold, Persa, Bengal, Siberian e em outros gatos domésticos de pelo curto, incluindo os sem padrão racial definido. A CMH é mais frequentemente diagnosticada em gatos machos e de meia-idade (entre quatro e sete anos), embora também é observada em gatos jovens e idosos.
Em cães, a MCH é considerada rara, acometendo principalmente machos de meia idade (seis anos) e raças como Pastor alemão, Dobermann, Airedale, Dogue alemão, Boston Terrier, Poodle e Buldogue.
Existe ainda a Cardiomiopatia Hipertrófica secundária, cujas causas principais são hipertensão arterial sistêmica, hipertireoidismo, estenose aórtica e acromegalia.
Transmissão
-Idiopática
-Hereditária
Manifestações clínicas
Assintomático
Sinais inespecíficos (isolados ou em conjunto):
-Anorexia
-Apatia
-Arritmia
-Cianose
-Dispneia
-Letargia
-Síncope
-Sopro
-Taquicardia
-Tosse
-Morte súbita
Diagnóstico
Associação de sinais clínicos, epidemiologia e exames laboratoriais.
Exames que o médico veterinário pode solicitar:
-Eletrocardiograma
-Ecocardiografia
-Radiografia
-Hemograma completo
-Ureia
-Creatinina
-PCR
Observação: A realização e a definição da necessidade de exames complementares são decisões do Médico Veterinário, de acordo com os possíveis diagnósticos.
Tratamento
O tratamento da MCH depende da gravidade da hipertrofia, presença de processo obstrutivo da via de saída, arritmias e tromboembolismo. Portanto, o objetivo é aumentar o enchimento ventricular, eliminar sinais congestivos, controlar arritmias, minimizar isquemia do miocárdio, prevenir a formação de trombos e morte súbita.
Nos casos em que há acúmulo de fluido no parênquima pulmonar (edema pulmonar) é recomendada a utilização de diuréticos e suplemento de oxigênio, e em casos de líquido no espaço pleural (efusão pleural) deve ser realizada a toracocentese.
É importante salientar que o estresse exagerado deve ser evitado, uma vez que pode agravar o quadro do paciente felino principalmente. Por isso, a contenção física deve ser mínima, breve e delicada. O nível de atividade deve ser minimizado na medida do possível.
O prognóstico depende de diversos fatores como apresentação clínica, velocidade da progressão da doença, gravidade das alterações estruturais cardíacas, resposta à terapia, ocorrência ou não de eventos tromboembólicos e/ ou arritmias. Felinos assintomáticos com hipertrofia do ventrículo esquerdo de discreta a moderada e dilatação atrial podem viver durante anos. Já aqueles que apresentam acentuada dilatação atrial e hipertrofia grave têm maior probabilidade de desenvolver insuficiência cardíaca congestiva e tromboembolismo, sendo o tempo médio de sobrevida de dois a seis meses.
Prevenção
A prevenção da CMH ocorre basicamente com a remoção dos animais que apresentam a doença dos programas de reprodução, sobretudo daqueles que pertencem às raças que possuem alteração genética de caráter hereditário, a fim de evitar a transmissão da característica para os descendentes. Além disso, pode-se realizar testes genéticos para detecção de mutações nas raças predispostas para diagnóstico precoce e posterior acompanhamento médico veterinário nos casos positivos para fornecer melhor qualidade e expectativa de vida.
Referências Bibliográficas
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