Tudo sobre: Neoplasias Mamárias em felinos
Introdução
Neoplasias são processos que podem ser tanto benignos quanto malignos, caracterizadas pela progressiva mutação das células gerando crescimento anormal do tecido, formando nódulos focais ou disseminados, firmes, podendo ou não estar aderidos e, em 25% dos casos, podem ulcerar. Acredita-se que as formas benignas possuam crescimento lento, com nódulos bem delimitados, focais e sem produzir metástase. A forma maligna geralmente apresenta crescimento exacerbado, pode apresentar-se aderida aos tecidos próximos e formar metástases.
As metástases são tumores que vão para a corrente circulatória e se implantam em locais totalmente distintos ao de origem, são responsáveis pelas maiores arresponsividades terapêuticas. Os órgãos mais comumente afetados são os pulmões, linfonodos, pleura, fígado, diafragma, glândulas adrenais, rins e ossos (mas depende do tipo de neoplasia e local de origem).
Os tumores mamários em gatas são menos frequentes do que em cadelas, representando 17% dos tumores em felinos (terceiro local de tumor mais frequente nessa espécie), sendo os mais comuns os carcinomas. Quando ocorrem, geralmente são malignos (80 a 96% dos casos), portanto, apresentam pior prognóstico.
Machos raramente são acometidos. A faixa etária mais comum fica em torno de oito a 10 anos de idade, e fêmeas não castradas ou castradas tardiamente são mais predispostas. Alguns autores citam o fato de que gatos de raça pura possuem até 10 vezes mais chance de desenvolver neoplasia, mas esse dado ainda não foi totalmente elucidado.
As neoplasias mamárias têm origem multifatorial, ou seja, diversos fatores endógenos e exógenos podem induzir sua formação tais como idade, influência hormonal, predisposição genética, radiação, carcinógenos químicos, dieta e administração regular de progestágenos para inibição do cio. Além disso, felinos possuem doenças infecciosas, como a leucemia viral felina (Felv), que apresentam intenso potencial carcinogênico.
A Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) dividiu os tumores em felinos em quatro categorias distintas: malignos, benignos, não classificados e hiperplasias. Diversas são as formas que podem acometer os gatos, mas as mais comuns são os carcinomas, adenomas e tumores mistos. Os carcinomas, em suas mais diversas formas, são sempre malignos, de alto poder metastático e com prognóstico desfavorável, representando aproximadamente 80% dos tumores mamários felinos. Adenomas são neoplasias benignas caracterizadas pelo comprometimento da glândula mamária e são bem delimitados e firmes, e ocasionalmente podem ter cistos disseminados. Tumores mistos são compostos por dois ou mais tipos celulares e podem ser tanto benignos quanto malignos, de acordo com sua composição.
Transmissão
-Não se aplica
Manifestações clínicas
- Nódulos firmes na cadeia mamária (único ou disseminado, uni ou bilateral)
- Nódulos ulcerados
- Dor leve, moderada ou intensa (variando no nível de comprometimento e tipo tumoral)
- Dispneia (decorrente de metástase)
Pode ocorrer a síndrome paraneoplásica, a qual apresenta diversos sintomas como:
- Anorexia ou hiporexia
- Caquexia
- Apatia
- Alopecia
- Pirexia
- Osteopatia hipertrófica
- Dermatofibrose nodular
Diagnóstico
-Anamnese associada ao exames físico e complementares. O(a) médico(a) veterinário(a) pode solicitar/ realizar os seguintes exames complementares:
-Hemograma completo
-Glicemia
-ALT - TGP
-Fosfatase alcalina (FA)
-GGT
-Ureia
-Creatinina
-Proteína total e frações
-Cálcio
-Potássio
-Sódio
-Tempo de coagulação sanguínea
-Radiografia torácica
-Ultrassonografia abdominal
-Tomografia computadorizada
-Punção aspirativa por agulha fina (PAAF)
-Citologia (65% de sensibilidade e 94% de especificidade)
-Biópsia
-Exame histopatológico (de fragmento coletado)
-Imuno-histoquímica
Observação: A realização e a definição de necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário(a).
Tratamento
O protocolo terapêutico mais recomendado, com exceção aos casos em que a operação é impossível de ser realizada (carcinomas inflamatórios ou nódulos de grande dimensão) ou quando há metástase, é a excisão cirúrgica (retirada do tumor). Em felinos, a técnica mais recomendada é a mastectomia uni ou bilateral, com a remoção dos linfonodos que apresentarem comprometimento (recomenda-se aguardar de duas a seis semanas para a realização da retirada da outra cadeia mamária, caso necessário, devido à dor pós-operatória e para que se tenha quantidade de pele suficiente para fechamento).
Pode-se realizar também a quimioterapia a qual apresenta resposta a curto prazo em boa parte dos animais. O procedimento requer acompanhamento constante do animal a cada aplicação, pois pode gerar mielossupressão (redução da atividade da medula óssea) e distúrbios gastrointestinais, como êmese e perda de apetite. Além disso, existe a necessidade de fiscalização após as aplicações de quimioterápicos, pois a eliminação destes produtos é urinária e fecal.
Outras formas de tratamento são a radioterapia, terapia local bem eficaz sem efeitos sistêmicos, que visa principalmente a redução do tamanho do tumor; a eletroquimioterapia, caracterizada pela associação de dois procedimentos (eletroporação e quimioterapia), a atuação elétrica aumenta a quantidade de poros na membrana celular permitindo maior entrada de quimioterápicos, tornando o processo mais eficiente, e a imunoterapia.
Concomitantemente a estes procedimentos ou em casos onde não há recomendação de intervenções, indica-se o uso de medicações a fim de manter qualidade e prolongar a expectativa de vida, tais como anti-inflamatórios esteroidais ou não, analgésicos, antieméticos e/ ou estimulantes de apetite (quando necessários), suplementação de aminoácidos, dietas de restrição e antioxidantes, como ômegas.
Prevenção
Castração precoce é citada como uma das principais formas de prevenção aos tumores hormônio dependentes, acredita-se que a redução da incidência seja em torno de 40 a 60%. Felinos castrados antes dos seis meses de vida apresentam probabilidade de 9% de desenvolverem neoplasias, já nos castrados com idade entre seis e 12 meses a probabilidade aumenta para 14%, portanto, quanto mais tardia a realização do procedimento maiores são as chances de desenvolver a doença. Seguindo a mesma linha de raciocínio, é contra-indicado o uso de anticoncepcionais.
Além disso, deve-se fornecer alimento de qualidade ao animal e a utilizar medicamentos somente mediante recomendações veterinárias (períodos e doses conforme prescritos). Testar o animal para doenças infecciosas, como vírus da imunodeficiência felina (FIV) e leucemia felina (Felv), e impedir acesso livre à rua ou contato com animais de origem desconhecida a fim de impossibilitar aquisições tardias.
Recomenda-se também o acompanhamento periódico com um(a) médico(a) veterinário(a), assim como a realização de vacinações como método preventivo de acordo com a indicação médica.
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