Tudo sobre: Prototecose
Introdução
Prototecose é uma doença causada por algas saprófitas do gênero Prototheca. São organismos unicelulares, imóveis e de distribuição mundial. Essas algas foram classificadas como aclorofiladas com afinidades filogenéticas à Chlorella spp. No entanto, acredita-se que tenham perdido o pigmento clorofila e a capacidade de realizar a fotossíntese e por causa disso algumas espécies sejam potencialmente patogênicas, uma vez que necessitam de uma fonte de alimentação heterotrófica.
São geralmente encontradas em habitats úmidos e ricos em matéria orgânica. Já foram isoladas em água do mar, rios e lagos, nas seivas de árvores, na lama e em diversas espécies animais, inclusive o homem. Por isso, é considerada uma zoonose emergente em animais e humanos. É uma doença relevante no cenário da produção leiteira bovina, pois já foi descrita diversas vezes como responsável por surtos de mastite.
Existem cinco espécies de algas do gênero Prototheca, contudo apenas duas são descritas como patogênicas e associadas a infecções em todos os continentes. É um microrganismo particularmente resistente no meio ambiente, porque em sua morfologia possui componentes que o protegem da digestão intestinal no hospedeiro, do tratamento com cloro e outros agentes químicos e físicos, bem como de procedimentos térmicos de esterilização, como a pasteurização do leite.
O animal adquire a doença ingerindo alimento ou água contaminados por essa alga, ela se reproduz no organismo e é eliminada principalmente através das fezes e do leite. Para humanos e animais de companhia, outra fonte de infecção é a contaminação de ferimentos ou áreas traumatizadas. Aparentemente, indivíduos imunocomprometidos são mais acometidos por esta doença. Cães e, ocasionalmente, gatos apresentam manifestações em pele, cólon (intestino) e olhos, mas a doença pode se disseminar pelo corpo todo. Há indícios que as fêmeas manifestem mais essa doença, mas não se sabe ao certo o motivo. E a raça Collie parece ter maior predisposição.
Transmissão
- Água contaminada
- Alimento contaminado
- Feridas
- Fezes
- Leite materno
Manifestações clínicas
Sinais inespecíficos (isolados ou em conjunto):
- Hematoquezia
- Diarreia
- Ulceração de pele
- Espirro
- Emagrecimento
- Hiporexia
- Anorexia
- Pirexia
- Cegueira
- Distensão abdominal
- Descamação da pele
Diagnóstico
Associação de sinais clínicos, epidemiologia e exames laboratoriais.
Exames que o(a) médico(a) veterinário(a) pode solicitar:
- Hemograma completo
- ALT – TGP
- AST – TGO
- Ureia
- Creatinina
- Citologia – PAAF ou Imprint
- Gram (Microscopia Direta)
- Gram – Citológico
- Análise de Líquor
- Pesquisa Direta para Sarnas e Fungos (Raspado de pele)
- Cultura com Antibiograma - Aeróbios
- Cultura com Antibiograma – Anaeróbios
- Cultura com Antibiograma Combinado (Anaeróbios + Aeróbios)
- Cultura para Fungos com Antifungigrama
- Coprocultura (Cultura de Fezes)
Observação: A realização e a definição de necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário(a).
Tratamento
Nos casos de prototecose cutânea, a excisão cirúrgica do nódulo em conjunto com a terapia por antibióticos e antifúngicos sistêmicos têm demonstrado sucesso. Esse mesmo protocolo terapêutico é indicado para os casos sistêmicos, porém os estudos sobre efetividade são controversos, pois a ação das drogas é limitada e não há medicamentos específicos contra Prototheca sp. O uso de imunoestimulantes já foi relatado experimentalmente como auxílio no tratamento.
Em pacientes com manifestações graves que comprometem o funcionamento do organismo, a internação para terapia de suporte pode ser indicada. Cabe ao(à) médico(a) veterinário(a) avaliar a situação cuidadosamente, a condição do indivíduo e suas especificidades para, assim, estabelecer o melhor tratamento.
Prevenção
A distribuição ampla do microrganismo e sua afinidade por ambientes com matéria orgânica disponível dificulta a preconização de medidas de controle e profilaxia. Diferentemente dos animais de rebanho, a prototecose em animais de companhia tem caráter individual.
A partir do diagnóstico, tanto o(a) médico(a) clínico(a) veterinário(a) quanto o(a) tutor(a) devem priorizar a redução da exposição do agente infeccioso. Algumas medidas higiênico-sanitárias simples e adequadas podem auxiliar nesse objetivo: isolar os animais doentes, usar luvas ao manipulá-los, remover materiais orgânicos e manter o ambiente seco, limpo e exposto à luz solar.
Referências bibliográficas
CAMBOIM, E. K. A. et al. Prototecose: uma doença emergente. Pesq. Vet. Bras. 30(1):94-101, janeiro 2010
SIQUEIRA, A. K. et al. Prototecose em animais de companhia e aspectos da doença no homem. Ciência Rural, Santa Maria, v.38, n.6, p.1794-1804, set, 2008.
WILLARD, M. D. Distúrbios do Sistema Digestório. In: NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Medicina interna de pequenos animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.