Tudo sobre: Refluxo Gastresofágico
Introdução
O estômago é o órgão responsável pela maior parte da digestão de proteínas e demais nutrientes no organismo. Isso é consequência da sua capacidade em produzir o suco gástrico, que contém o ácido clorídrico, componente fundamental para digestão dos mais diversos alimentos. A mucosa do estômago (camada que entra em contato com o alimento e com o suco gástrico) produz um muco que a protege contra a ação do ácido clorídrico, mas se o líquido atinge outros órgãos, ocorre lesão, como é o caso, principalmente, do esôfago, que não tem esta proteção em sua mucosa. O fluxo normal do suco gástrico é sair pelo estômago, junto com o alimento digerido, e passar pelo intestino delgado, onde o ácido clorídrico é neutralizado pela presença de bicarbonato do suco pancreático. Quando o suco gástrico faz o caminho inverso, acontece o chamado refluxo gastroesofágico, uma afecção que é comum também em humanos e, tornando-se crônica, pode causar problemas graves. Essa reação do corpo é um mecanismo involuntário, que faz o conteúdo do estômago retornar para o esôfago, podendo chegar até a boca (que seria o vômito ou regurgitação).
O refluxo pode ter causas congênitas, medicamentosas, infecciosas e alimentares, sendo mais comum em cães do que em gatos. Anomalias anatômicas do estômago, presença de corpos estranhos gástricos, uso indiscriminado de anti-inflamatórios, infecção por bactérias do gênero Helicobacter, dieta inadequada, hábito de comer rapidamente e exercício físico após alimentação são as principais causas de refluxo do suco gástrico (com ou sem alimento junto). O refluxo pode ser uma consequência ou a causa de gastrite e úlcera.
Embora seja uma alteração que na maioria das vezes não causa danos sérios, se o refluxo se tornar frequente, lesões crônicas e mais graves podem ocorrer, como perfuração do esôfago, úlceras e aparecimento de tumores.
O refluxo gastroesofágico nem sempre está acompanhado de náusea, vômito ou regurgitação, podendo passar despercebido. O incômodo gerado pelo problema pode levar o animal a comer grama, por exemplo, um hábito frequentemente observado pelos tutores.
Transmissão
-Não se aplica
Manifestações clínicas
- Hábito de comer grama
- Inapetência
- Anorexia
- Êmese
- Regurgitação
- Dor ao se alimentar
- Emagrecimento
- Disfagia
Diagnóstico
- Exame clínico associado ao histórico do paciente
- Ultrassonografia
- Exame radiográfico contrastado
- Endoscopia
Observação: A realização e a definição da necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário(a).
Tratamento
Nos casos leves, o tratamento consiste na utilização de protetores gástricos que reduzem a produção do ácido clorídrico (inibidores da bomba de prótons) e medicamentos chamados de pró-cinéticos, ou seja, aqueles que estimulam o esvaziamento gástrico (metoclopramida/ bromoprida). O tratamento segue o protocolo para terapia de gastrites e úlceras. Porém, se o refluxo gastroesofágico se torna um problema recorrente, provavelmente ele é a manifestação de uma alteração primária que deve ser identificada e tratada. Se o refluxo for consequência de infecção por bactérias como o Helicobacter spp. é necessário tratamento específico com antibioticoterapia.
Na presença de regurgitação ou vômitos frequentes, é necessária utilização de antieméticos. Protetores diretos da mucosa gástrica e esofágica podem ser necessários quando existe uma lesão mais profunda na parede destes órgãos, sendo o sucralfato o medicamento mais utilizado nesses casos.
Nos casos onde há alterações anatômicas causando o refluxo, como estenose pilórica (estreitamento do canal de saída do estômago), presença de obstruções (como as causadas por corpos estranhos) e nos casos graves de perfuração gástrica ou esofágica, o tratamento cirúrgico é recomendado.
Se o animal estiver realizando alguma terapia com medicações que interferem na proteção do estômago, principalmente anti-inflamatórios não esteroidais, ou qualquer outra que possa afetar diretamente o órgão (como antibióticos e analgésios), pode ser necessária a suspensão do tratamento após avaliação criteriosa de um profissional.
Prevenção
Prevenir qualquer forma de gastrite primária: fornecer alimentação de qualidade e com composição/ quantidade adequada para a espécie; não utilizar medicamentos sem recomendação médica; associar gastroprotetores a tratamentos longos com anti-inflamatórios e antibióticos, principalmente. Também é preciso evitar que o animal brinque com objetos que podem ser deglutidos e obstruir/ machucar o trato gastrintestinal e que o pet brinque ou se exercite imediatamente após se alimentar.
Referências Bibliográficas
Sellon R.K. e Willard M.D. Esophagitis and Esophageal Strictures. The Veterinary Clinics Small Animal Practice. V.33, n.4, p. 945-967, 2003.
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Zoran D.L. Gastroduodenoscopy in the dog and cat. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice. v.31, n.7, p.631-656., 2001.