Tudo sobre: Vacuolização neuronal e degeneração espinocerebelar
Introdução
A vacuolização neuronal e degeneração espinocerebelar é uma doença degenerativa, multifocal e progressiva do Sistema Nervoso Central (SNC), de origem desconhecida que geralmente resulta em incapacidade grave ou ainda morte precoce. Especula-se que seja uma condição hereditária e já foi relatada em cães da raça Rottweiler, Boxer e American Staffordshire Terrier. Esta degeneração tem caráter espongiforme (formação de vacúolos intracelulares devido à degeneração, dando aspecto de esponja), porém não é causada por príons como na Encefalopatia Espongiforme.
Os distúrbios degenerativos dos neurônios do encéfalo, cerebelo e medula espinhal podem estar associados ao acúmulo de proteínas e/ ou organelas (estruturas intracelulares) defeituosas. Os exames histopatológicos (post-mortem) demonstram vacúolos intraneuronais (vacúolos dentro das células nervosas) primariamente em cerebelo, tronco encefálico e substância cinzenta da medula espinhal. A alteração típica consiste em vacuolização neuronal intracitoplasmática que ocorre aleatoriamente dentro do córtex cerebral, núcleos talâmicos, mesencéfalo, cerebelo, bulbo e substância cinzenta da medula espinhal.
Pode haver também o envolvimento do Sistema Nervoso Periférico (SNP), onde ocorre uma vacuolização similar nos gânglios nervosos, bem como o comprometimento do nervo laríngeo lateral, que promove concomitante paralisia de laringe.
Além dos sinais neurológicos, é possível observar alterações congênitas oculares concomitantes em alguns cães, como catarata, membrana pupilar persistente, microftalmia e displasia retinal. A presença de megaesôfago também pode estar relacionada com a doença.
Transmissão
- Hereditária
- Congênita
Manifestações clínicas
Sinais inespecíficos (isolados ou em conjunto):
- Fraqueza
- Ataxia
- Dispneia
- Disfagia
- Nistagmo
- Hipermetria
- Tremores
- Head Tilt
- Regurgitação
- Tosse
- Hiporreflexia
- Paresia
Diagnóstico
Associação de sinais clínicos, epidemiologia e exames laboratoriais.
Exames que o(a) médico(a) veterinário(a) pode solicitar:
- Análise de líquor
- Histopatológico com coloração de rotina
- Histopatológico com coloração especial
- Imunohistoquímica
- Laringoscopia
Observação: A realização e a definição de necessidade de exames complementares são decisões do(a) Médico(a) Veterinário(a).
Tratamento
Não há tratamento específico e o prognóstico é geralmente desfavorável. No entanto, quando o diagnóstico é realizado precocemente o(a) clínico(a), após avaliar o custo-benefício juntamente com o(a) tutor(a), pode recomendar o uso de corticóides e o início de fisioterapia e outras terapias de suporte (acupuntura, hidroterapia) para retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente. É importante que o(a) tutor(a) esteja ciente que as funções neuromotoras perdidas dificilmente serão restabelecidas.
Cabe ao(à) médico(a) veterinário(a) responsável avaliar o estado geral do(a) paciente e nos casos em que a qualidade de vida esteja gravemente comprometida, devido à progressão da doença, a eutanásia pode ser considerada. A eutanásia é o ato intencional de proporcionar uma morte indolor ao paciente para aliviar o sofrimento causado por uma doença incurável ou dolorosa. Só deve ser realizada pelo(a) médico(a) veterinário(a), depois de uma criteriosa avaliação do paciente, com a plena ciência e autorização do(a) responsável pelo animal. O(a) tutor(a) deve ser orientado sobre o diagnóstico, progressão da doença e prognóstico para que tome a melhor decisão tendo em vista o bem-estar do(a) paciente.
Prevenção
Por ser uma doença congênita, não há medidas de prevenção efetivas. No entanto, recomenda-se ao(à) tutor(a) que ao adquirir um animal de raça sempre procure criadores idôneos e canis registrados, onde seja possível conhecer a linhagem genética do filhote. O controle sobre doenças genéticas e hereditárias dos reprodutores do plantel e um cuidadoso pré-natal das matrizes pode diminuir as chances de transmissão genética de doenças às ninhadas.
Um(a) tutor(a) responsável deve estar atento a quaisquer mudanças comportamentais e físicas de seus animais e levá-los para check up semestral ou anual de acordo com a orientação do profissional que acompanha seu pet.
Referências Bibliográficas
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