A melhor brincadeira para uma criança é com outra criança. O mesmo acontece com os cães. Mas e aquele que já são adultos e não são socializados?
Se o cachorro não é ensinado desde filhote a interagir com outro cão, ele pode se tornar não-socializado e reativo. Sem entender a linguagem canina, o cachorro não socializado passa a ser um problema também para o tutor. Já que fica difícil frequentar praças, parques ou qualquer local pet friendly.
Alguns profissionais do comportamento argumentam que nem todos os cães precisam ser socializados. Dizem que está tudo bem caso o cachorro não queira interagir com seus co-específicos. Nenhum cachorro é obrigado a ser super sociável, mas a presença de um outro cão também não pode gerar um grande estresse.
Imagina aquele cachorro que não é socializado, vive em um mundo apenas de humanos, não compreende a linguagem canina, mas passa mal e precisa ser levado ao hospital veterinário. Obrigatoriamente ele irá encontrar com outros cães, nem que seja só pelo cheiro. Ele já estará em desconforto pela dor. Imagina o aumento dessa angústia ao ter que lidar com um ser que é tão estranho para ele.
É inegável que em algum momento da vida um cachorro precisará estar no mesmo ambiente que outro. Para minimizar o estresse, é muito importante que ele saiba minimamente lidar com aquela situação.
Primeiro passo para a socialização
Compreender a linguagem de um cachorro não começa apenas pelo visual, mas pelo cheiro. Por isso, o primeiro passo para a socialização é colocá-lo na presença do cheiro de outro cão, com associação positiva (petisco, por exemplo).
Passear em praças vazias, bem cedinho, quando nenhum outro cão acordou ainda, é uma ótima alternativa. Vá com uma guia bem comprida e deixe o cachorro cheirar cada cantinho. Lembre de recompensar, mesmo que verbalmente (“muito bem!”), para ir fazendo a associação positiva.
Segundo passo para socializar um cão adulto
Mesmo que ele não seja socializado, ele tem experiências e memórias de interação com outros cães. Pode ser algo legal ou nem tanto. A questão é não se apegar a isso, mas respeitar o espaço de segurança.
Todo cachorro tem uma distância na qual se sente confortável ao ver outro cão. Quanto maior for a distância, menor é essa tolerância. A parte mais difícil é encontrar esse limite, manter o animal dentro da zona de conforto e recompensá-lo.
Aos poucos, associando a presença do outro cão a algo positivo e confortável, essa distância pode diminuir bem aos poucos. Tudo com muita paciência e observação do comportamento dos cães.
Essa fase só irá funcionar se o cão já estiver condicionado previamente a ter foco na sua mão ou mesmo em algum brinquedo, como o tapete de lamber. Do contrário, o treino só irá estressá-lo.
Terceiro passo precisa de um cão-professor
A parte mais difícil para socializar um cachorro adulto é a necessidade de ter um segundo cão treinado para isso. Não podemos utilizar qualquer cachorro para esse passo. Isso porque iremos soltar dois cães (o que está sendo socializado e o “professor”) em um mesmo espaço bem grande.
O segundo cachorro (o “professor”) não pode ir em direção ao cão em aprendizado. Isso irá colocar todo o trabalho feito até aqui no lixo. Já que o cão poderá se sentir desconfortável, com possibilidade de reatividade.
Ambos os cães devem estar no ambiente, porém focados cada um em uma atividade diferente. Pode ser simplesmente cheirar o chão, buscar petisco na grama, treino de adestramento ou mesmo um tapete de lamber.
Começamos com um tempo curto e vamos aumentando esse tempo ao longo dos dias. Sempre respeitando qualquer sinal de desconforto no cão em aprendizado.
Quarto passo: ensinar a fugir
Um cão socializado não é aquele que chama para brincar e fica todo feliz quando vê outro. Mas aquele que não é reativo, tolera a presença do outro e, em caso de desconforto, sabe como agir.
A Aurora, minha cachorrinha, foi socializada por mim já adulta. Hoje ela tem interesse em cheirar outros cães. Mas chamar para brincar, aí já é muita intimidade. Ela não curte. Por isso, eu a ensinei a fugir. Talvez esse seja o ensinamento mais fundamental no processo de socialização.
Com medo, o cachorro tem duas reações primordiais: luta ou fuga. Na luta, ele ataca, na fuga, ele se esquiva. No auge dos seus 2,5 kg, a Aurora é bem ágil para fugir.
Para estimular esse comportamento, basta chamar o cão para longe das situações de desconforto. Chegou um cachorro na pracinha e seu peludo está dando sinais de desconforto, chame-o de forma bem festiva para longe da situação.
Obviamente que esse passo só irá funcionar se o cachorro já estiver treinado e ir, quando chamado.
Quinto passo: bom senso
O quinto e último passo é fundamental para que não haja retrocesso no processo de socialização. Se seu cachorro tolera apenas poucos cães juntos, não invente de leva-lo na pracinha lotada no domingo à tarde. Dê preferência a locais mais vazios, em horários alternativos. Mas não deixe de leva-lo.
Manter a frequência de treinos e passeios para socialização é de extrema importância. Vide a pandemia, onde os cães também ficaram isolados, perdendo ou diminuindo a capacidade de socialização com outros cães. Isso aconteceu com a Aurora mesmo. Ela regrediu muito no processo por ter ficado muito tempo sem ter contato.
A socialização não acontece do dia para a noite. Muito menos é algo que uma vez feito irá se manter para o resto da vida. Cabe a nós, tutores, incentivarmos os comportamentos que queremos e que são importantes para o bem-estar dos peludos.
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